
A suspeita de fraude no processo seletivo para a residência médica da Rede Mário Gatti é um golpe para a istração do prefeito Dário Saadi (Republicanos), ainda que sua resposta tenha sido rápida e incisiva. O fato de os cinco primeiros colocados terem obtido exatamente a mesma nota, com distribuição idêntica entre especialidades, foi, por óbvio, suficiente para levantar questionamentos e gerar uma onda de desconfiança, especialmente nas redes sociais.
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Diante da repercussão, Saadi determinou a suspensão do resultado e abriu uma apuração interna, deixando claro que não toleraria qualquer irregularidade. "Eu fui quem implantou a residência médica do Mário Gatti e não vou itir qualquer suspeita, qualquer dúvida sobre o processo", declarou o prefeito. A rápida resposta evita um desgaste maior, mas não apaga o impacto negativo da situação.
Mesmo que a prefeitura tenha deixado claro que a responsabilidade pelo exame é da empresa terceirizada Consesp, contratada via licitação, o baque na credibilidade é inevitável. O episódio lança dúvidas sobre a transparência de outros processos seletivos conduzidos pela istração municipal, e o fato de a suposta irregularidade atingir a poderosa Rede Mário Gatti reforça a sensação de fragilidade nos controles internos.
A repercussão do caso gera um desgaste inevitável, não apenas para o programa de residência médica, mas para a confiança nos concursos e seleções promovidos pelo município. Campinas tem diversos processos seletivos em andamento, e a polêmica abala todos eles.
A resposta rápida de Dário Saadi tenha sido um acerto político do ponto de vista da comunicação. A condução, ou melhor, apuração da crise agora será essencial para dirimir incertezas e tentar garantir confiança.
A suspensão do resultado e a revisão das provas são medidas necessárias, mas, no final das contas, o estrago já foi feito. A segurança dos concursos organizados pela Prefeitura de Campinas está abalada, e a gestão de Dário Saadi terá que demonstrar, como o prefeito prometeu, que essa não será apenas mais uma novela sem consequências concretas, caso a suspeita seja verdadeira.
Legalidade, impessoalidade e moralidade
A Prefeitura de Campinas procurou a coluna e enviou uma nota para esclarecer como se dá o procedimento para a realização de concursos e esclarece que durante o governo Dário as provas foram aplicadas com "segurança e lisura". A coluna divulga a nota na íntegra e está aberta para eventuais outros esclarecimentos:
Entre 2021 e 2025, foram realizados 14 (quatorze) concursos públicos para o preenchimento de 151 (cento e cinquenta e um) cargos: 51 em especialidades médicas, 26 na área da saúde, 30 na área da educação, 26 para a Orquestra Sinfônica de Campinas e 18 em áreas diversas, totalizando 729 (setecentas e vinte e nove) vagas e 87.310 candidatos inscritos.
Os certames foram organizados pela renomada Fundação Vunesp, instituição criada em 1979, responsável por concursos públicos em todo o país para diversas áreas e especialidades, incluindo prefeituras, tribunais de justiça, Ministérios Públicos e forças de segurança, entre outros.
Destaca-se que todos os concursos públicos realizados pela Prefeitura de Campinas durante o governo Dário seguiram rigorosamente a legislação vigente, observando os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Todas as provas foram aplicadas com segurança e lisura, sem qualquer indício de irregularidade que comprometesse a imparcialidade do processo. Cada etapa foi conduzida conforme as normas estabelecidas em edital, sob fiscalização de comissões formadas por servidores públicos municipais.
Todos os resultados das fases foram devidamente publicados no Diário Oficial do Município e no site da Vunesp, garantindo ampla publicidade e transparência. Além disso, todas as etapas, desde a publicação dos editais até a homologação dos certames e a posse dos candidatos aprovados, foram auditadas pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, que atestou a legalidade dos concursos realizados pela Prefeitura de Campinas.
Dessa forma, reitera-se que os concursos públicos conduzidos pela istração municipal foram realizados com total respeito às normas legais.
Uma tentativa de pacificação
O vereador Vini Oliveira (Cidadania) parece ter entendido que, para sobreviver politicamente na Câmara de Campinas, é preciso mais do que discursos inflamados e embates acalorados. Após pouco mais de um mês de mandato marcado por polêmicas, o parlamentar busca agora um reposicionamento estratégico, delegando as articulações políticas ao seu chefe de gabinete, Marco Castiglieri, um veterano dos bastidores da política campineira, ex-PSDB e hoje no Cidadania. Foi nome ligado ao ex-secretário de transportes metropolitano da gestão Geraldo Alckmin, Jurandir Fernandes.
A mudança de postura não é apenas um ajuste interno, mas uma tentativa clara de acalmar os ânimos dentro do Legislativo e reduzir o desgaste com vereadores mais experientes. Em um ambiente político onde a convivência e os acordos são tão importantes quanto a oposição e a fiscalização, Vini parece ter percebido que confrontar constantemente pode isolar seu mandato antes mesmo de ele ganhar força.
A política exige mais do que enfrentamento. O jovem vereador quer mostrar que, sem articulação e sem uma base minimamente amigável, um parlamentar pode se tornar apenas um ator barulhento e inefetivo, incapaz de aprovar projetos ou influenciar decisões relevantes. E pior, ser uma presa fácil.
Resta saber se essa nova abordagem será suficiente para evitar mais atritos desnecessários e se Vini conseguirá consolidar um mandato que não seja apenas marcado por polêmicas, mas por entregas políticas concretas. Afinal, em meio a um plenário polarizado, a linha entre ser protagonista e ser apenas barulhento é tênue.
Sessão fria e a polêmica desnecessária
A sessão da Câmara de Campinas desta semana tinha tudo para ser protocolar e sem grandes embates, com a pauta dominada por projetos que, em teoria, não deveriam gerar discussões acaloradas. No entanto, um comentário do vereador Nick Schneider (PL) transformou a votação do Dia Municipal dos Territórios Negros, proposto pela vereadora Guida Calixto (PT), em mais um episódio de polarização desnecessária no Legislativo campineiro.
O projeto, que visa ampliar o reconhecimento de Campinas como território negro e fortalecer a memória de personalidades históricas ligadas à causa, foi aprovado sem grandes dificuldades. Mas a discussão ganhou um tom de confronto quando Schneider afirmou que votaria contra a proposta por não apoiar religiões que não fossem cristãs. A fala desviou o foco do debate e abriu espaço para um embate ideológico.
A declaração do vereador gerou reações imediatas da autora do projeto e de outras parlamentares, que classificaram sua fala como intolerância religiosa.
A repetição de um padrão. O plenário, que deveria estar voltado para os problemas concretos da cidade, segue refém de discursos que servem muito mais para alimentar redes sociais do que para resolver questões locais.
Enquanto Campinas enfrenta problemas estruturais como dengue, transporte e infraestrutura, os vereadores gastam tempo e energia em discussões que, no final, apenas reforçam antagonismos já conhecidos. Esse processo tende a crescer ainda mais.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: [email protected].