
A crise entre a Prefeitura de Campinas e o Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira entrou em uma nova e mais ruidosa etapa nesta quarta-feira (5), com uma manifestação mais encorpada e marcada por forte presença política. O protesto bloqueou a Avenida Anchieta, em frente ao Paço Municipal, e contou com a presença de todos os vereadores da oposição — Paolla Miguel, Guida Calixto e Wagner Romão (PT), Mariana Conti e Fernanda Souto (PSOL), e Gustavo Petta (PCdoB) —, um indicativo claro de que o caso transbordou do campo técnico para o embate político direto com a gestão Dário Saadi (Republicanos).
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A mobilização deu sequência aos atos iniciados na segunda-feira (3), dentro da Câmara Municipal, e sinaliza o crescimento gradual da insatisfação com a condução do governo em relação à saúde mental, um dos pontos mais sensíveis da rede pública. A manifestação de trabalhadores, usuários e apoiadores do Cândido bloqueou o tráfego por cerca de uma hora e foi acompanhada pela Emdec e pela Guarda Municipal.
O estopim da mobilização é o ime sobre o reajuste do convênio que financia o atendimento nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). A instituição reduziu seu pedido de aumento de 23% para 16%, mas a Prefeitura mantém a oferta de apenas 5%, o que, segundo a entidade, não cobre os custos para manter as 40 unidades ativas, 10 delas com atendimento 24 horas.
Embora o contrato tenha sido prorrogado por decisão judicial por mais seis meses, o clima de instabilidade e a falta de definição sobre o reajuste aprofundam o desgaste. O serviço atende 5,5 mil pessoas por mês pelo SUS e emprega cerca de 850 profissionais — uma rede robusta, que torna o risco de desassistência ainda mais grave.
O desgaste é amplificado pelo efeito colateral dos supersalários aprovados recentemente para diretores de autarquias, que transformaram qualquer ime orçamentário em munição crítica contra o Executivo. Ao mostrar força nas ruas e no campo político, a crise do Cândido a a ocupar espaço cada vez mais incômodo no radar do Quarto Andar. E o governo municipal, mesmo com maioria na Câmara, vê crescer a barulheira em torno de uma pauta que combina saúde, orçamento e simbolismo social.
Servidores de Campinas rejeitam nova proposta
A terceira rodada de negociações entre a Prefeitura de Campinas e o Sindicato dos Servidores terminou novamente sem acordo nesta quarta-feira (5). A istração manteve o índice de 5,53% de reajuste salarial, enquanto o sindicato reivindica 17,62%, alegando perdas inflacionárias acumuladas.
Durante o encontro, a gestão Dário Saadi melhorou a proposta de reajuste dos benefícios, elevando o vale-alimentação e o auxílio nutricional de 7,81% para 10,02%. Com isso, o valor pago aos servidores da ativa subiria de R$ 1.772,37 para R$ 1.951,00, e o dos aposentados e pensionistas com até três pisos salariais, de R$ 300,06 para R$ 330,00.
Mesmo com o avanço nos benefícios, a proposta salarial foi considerada insuficiente e rejeitada na mesa. A decisão foi ratificada em assembleia geral da categoria ainda na tarde desta quarta.
O sindicato informou que rechaçou os argumentos da prefeitura sobre limites orçamentários e que a pauta de reivindicações continua baseada em estudos técnicos. A istração, por sua vez, justificou que o crescimento vegetativo da folha e a queda de receitas no primeiro quadrimestre impedem um reajuste maior.
Durante a reunião, o governo também anunciou que deve lançar na próxima semana o edital para o credenciamento das empresas que operarão o novo plano de medicamentos, com fornecimento gratuito de remédios para servidores ativos, aposentados, pensionistas e dependentes de servidores falecidos, a partir de uma lista com mais de 600 apresentações.
A quarta rodada de negociação está marcada para segunda-feira (9), às 14h30. Caso não haja avanço, o sindicato anunciou que poderá votar o estado de greve da categoria.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: [email protected].