OPINIÃO

BDNF e o cérebro


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Você já ouviu falar no BDNF? Essa sigla representa o Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (Brain-Derived Neurotrophic Factor), uma proteína fundamental para a saúde do nosso sistema nervoso. É considerado por muitos estudiosos como o “fertilizante do cérebro” pois atua diretamente na manutenção, crescimento e plasticidade dos neurônios, as células que formam e sustentam nossa capacidade de pensar, lembrar, sentir e se adaptar.

O nosso cérebro não é estático, ao contrário do que se acreditava há décadas, ele é mutável e muito dinâmico, e é justamente aí que entra o BDNF: como um agente de transformação constante. Ele não apenas estimula o nascimento de novos neurônios, como fortalece as conexões entre eles e participa de processos sofisticados de aprendizado, memória, regulação emocional e saúde mental. No entanto, o que poucos sabem é que esse mesmo fator que promove crescimento e memória também está envolvido no esquecimento, e isso é uma coisa boa, acreditem.

O BDNF age especialmente em regiões como o hipocampo (área essencial para o aprendizado e a formação de memórias) e o córtex cerebral. Ao ser liberado, ele estimula a neurogênese (formação de novos neurônios) e a sinaptogênese (formação de novas sinapses, ou conexões entre neurônios), o que favorece o desempenho cognitivo e a flexibilidade mental.

Estudos mostram que pessoas com maiores níveis de BDNF tendem a ter melhor memória, mais clareza mental e mais capacidade de adaptação emocional. Além disso, o BDNF atua como um “seguro” contra doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, e transtornos como depressão e ansiedade.

A boa notícia? O BDNF pode ser estimulado naturalmente. O que você faz com seu corpo, sua mente e suas emoções interfere diretamente na produção dessa molécula. 
Atividades como exercício físico regular, especialmente os aeróbicos e de força são excelentes. A exposição ao sol ativa a vitamina D, indiretamente envolvida na expressão do BDNF. O sono de qualidade também é imprescindível, pois atua na consolidação da memória e na regeneração neural, que acontecem durante o sono profundo. Uma alimentação rica em antioxidantes, como frutas vermelhas, cúrcuma e ômega-3 também são importantes. Práticas como meditação, respiração consciente e conexão com a natureza também funcionam como estímulo direto à neuroplasticidade, ativando o BDNF como um aliado silencioso, mas extremamente eficaz.

Se por um lado o BDNF é conhecido por fortalecer as memórias e os aprendizados, estudos recentes revelam que ele também está envolvido em processos de esquecimento ativo. Isso pode parecer paradoxal à primeira vista, mas é perfeitamente coerente com a inteligência do corpo, pois o cérebro, assim como um jardim, precisa de espaço para que novas plantas cresçam. O esquecimento, nesse contexto, é uma espécie de poda sináptica, um processo em que o cérebro elimina conexões que não são mais úteis ou que foram pouco ativadas com o tempo. E adivinhe quem participa disso? O BDNF.

Pesquisas em neurociência indicam que essa proteína regula a remoção de sinapses fracas, promovendo uma espécie de reorganização neural. Isso não apenas facilita o aprendizado de novas habilidades como evita a sobrecarga de informações irrelevantes. Esquecer, nesse caso, não é um erro: é uma estratégia adaptativa do cérebro para manter-se leve, eficiente e presente.

O estresse crônico, sedentarismo, alimentação industrializada e privação de sono são fatores que diminuem sua produção do BDNF, o que nos torna mais rígidos, menos criativos e emocionalmente reativos. Em contrapartida, a combinação corpo–mente ativa, que sempre trago a vocês, é uma fórmula concreta para nutrir esse equilíbrio dinâmico entre expansão e renovação cerebral.

Estimular o BDNF significa dar ao cérebro ferramentas para crescer, adaptar-se e também soltar o que não serve mais. Isso vale tanto para memórias como para padrões de pensamento e comportamentos que ficaram ultraados. Crescimento e esquecimento, nesse contexto, não são opostos, mas complementares.

O BDNF nos ensina que a saúde do cérebro não está apenas em acumular conhecimento, mas em saber o que manter e o que deixar ir. Ele é o jardineiro silencioso que cultiva nossas capacidades cognitivas e emocionais, ao mesmo tempo em que limpa o terreno para que novas possibilidades floresçam. Se queremos um cérebro mais jovem, resiliente e em harmonia com o corpo, precisamos nos lembrar e também nos permitir esquecer. Afinal, como na natureza, o ciclo da saúde mental também envolve plantar, regar, colher e podar. Muita saúde a todos.

Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil ([email protected])

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