
Alguns dos meus leitores sabem que uma das minhas paixões é a corrida. E recentemente saiu em todos os jornais pelo mundo uma corredora de 77 anos chamada Jeannie Rice. Há algo de profundamente lindo quando um corpo, aos 77 anos, decide continuar dançando com o tempo, não como um duelo, mas como um acordo silencioso entre carne e espírito. Jeannie Rice não corre apenas pelas ruas de Boston, Londres ou Tóquio nas maratonas, ela corre dentro do próprio tempo, dobrando os calendários com suas adas longas, firmes e serenas. Seu VO? máximo não é apenas um dado fisiológico que espanta: é um sussurro do corpo dizendo que ele ainda tem muito a dizer. Afinal o seu Vo2 Max que é o indicativo do seu condicionamento físico, é comparado ao de uma mulher treinada de 25 anos.
Ela alimenta essa presença pulsante de vitalidade com uma rotina simples, quase poética, que começa em tigelas mornas de aveia com frutas, segue com folhas verdes e peixes sobre saladas como se a natureza mesma fosse a convidada diária à sua mesa. O queijo e as nozes, que segunda ela são suas “quedas”, não são culpas, são lembranças de que o prazer, mesmo que em pequenas porções, também faz parte da longevidade. Nada em excesso, nada proibido, tudo em equilíbrio e tudo respeitado.
Jeannie não sobrecarrega o corpo com fórmulas mágicas ou promessas de juventude eterna que vem em pílulas ou procedimentos estéticos. São apenas quatro suplementos: cálcio com vitamina D, B12 e magnésio que é como se dissesse que o essencial cabe em poucas linhas e muitos os o caminho para a longevidade. E que o segredo não mora nos excessos, mas no ritmo que o corpo encontra quando é escutado com paciência e cuidado.
Enquanto muitos colocam o envelhecimento como uma linha de chegada, ela o transforma em percurso. Corre 80 quilômetros por semana, às vezes até 120 quando a maratona se aproxima. E quando o descanso chama, ela ouve. Permite-se um dia de pausa e treinos de força que não buscam a exaustão, apenas o fortalecimento. Não é um corpo em guerra com a idade, mas um corpo que fez as pazes com ela, apesar da idade.
Estudos recentes mostram que o treinamento de força no envelhecimento age não só sobre os músculos, mas também sobre a mente, já mencionei vários estudos aqui nos meus artigos no jornal. É como se o corpo, quando desafiado com respeito, também iluminasse os labirintos do pensamento, prevenisse doenças, alinhasse batimentos e até memórias. O corpo, esse templo invisível, se revela novo, quando bem cuidado.
Jeannie diz que “treina como se sente”, e isso talvez seja sua maior sabedoria. Ela não segue protocolos frios, mas escuta os sussurros de seu organismo. Quando se sente forte, avança. Quando o corpo pede calma, ela concede. Há uma comunicação fluida entre desejo e discernimento. Sua meta? Continuar assim até os 80. Mas há algo em seu tom que sugere que talvez ela vá além. Porque há pessoas que não envelhecem para o tempo, apenas mudam o ritmo do o.
No fundo, ela nos lembra que o envelhecimento não precisa ser uma curva descendente, mas pode ser uma espiral de profundidade. Que viver bem não é viver como jovem, mas viver com sentido. Enquanto os anos am para muitos como fardos, para Jeannie, a corredora maratonista, eles am como companheiros. Porque ela, com seu VO? de 25 anos e sua alma de vento livre, continua dizendo ao mundo que o tempo... também pode correr com você. Até a próxima!
Rogério Cardoso é personal trainer e preparador físico, membro da Sociedade Brasileira de Personal Trainer SBPT e da World Top Trainers WTTC.