
Marcelo Cançado faz parte da terceira geração da família à frente de um negócio que há décadas faz parte do cotidiano de Piracicaba e de diversas outras cidades do interior paulista: a Rede Drogal, que neste ano completa 90 anos de fundação. Na gestão da empresa há mais de 40 anos - junto do irmão, Ricardo, do sobrinho Thiago e do primo, Roberto Lessa - Cançado presidiu até agosto do ano ado o Conselho da Acipi (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba) cargo que ocupava desde 2021. A saída foi motivada por novos voos na liderança da principal entidade do setor de farmácias do país, a Abrafarma (Associação Brasileira de Farmácias e Drogarias), cargo que ocupa desde então.
Nessa entrevista para o Persona, ele fala um pouco sobre essa nova fase, os principais entraves para o desenvolvimento do setor e nos oferece um panorama sobre a dimensão que a Rede Drogal representa hoje em Piracicaba e sua consolidação como a maior rede de farmácias do interior paulista. Confira:
A Drogal é hoje uma das maiores redes de farmácias do interior de São Paulo, numa história de décadas surgida aqui em Piracicaba. Qual é a dimensão do negócio em termos de sua capilaridade e colaboradores?
A Drogal nasceu em Piracicaba em 1935, portanto há 90 anos, com o nome de Pharmácia do Povo, na antiga rua João Pessoa, hoje rua Governador Pedro de Toledo, esquina com a rua Moraes Barros. Em 1968 mudou para a rua Governador Pedro de Toledo, 926, onde permanece até hoje. Mantendo nosso foco na expansão sustentável, a Drogal possui 410 farmácias (sendo 41 apenas em Piracicaba) espalhadas por 131 cidades, sendo 128 no interior de SP e 3 no interior de Minas Gerais. Isso consolida a Drogal como a maior rede de farmácias no interior paulista e a 8ª maior rede do país no Ranking da Abrafarma (Associação Brasileira de Farmácias e Drogarias). Atualmente são 8.000 colaboradores.
Do ponto de vista de uma das maiores marcas empregadoras de Piracicaba e da região, quais são os principais valores que ela cultiva junto a tantos colaboradores? Como a Drogal se vê como uma referência na geração de empregos?
Ao longo dessas nove décadas construímos uma cultura sólida, guiada por valores que respeitam as pessoas, impulsionam a inovação e promovem o bem coletivo. A Drogal cultiva valores fundamentais como respeito, transparência e comprometimento, tanto no acolhimento dos clientes quanto no cuidado com seus colaboradores, mantendo uma tradição de valorização humana e desenvolvimento profissional.
Um ponto que chama a atenção é a longevidade no “tempo de casa” dos colaboradores. Como isso é traduzido para a realidade da empresa tanto na condução do negócio como na sua atuação na sociedade?
Para se ter uma ideia, hoje, todos os nossos gestores, tanto das lojas quanto do istrativo, fizeram carreira dentro da empresa. Somos referência na geração de empregos na região, e a empresa se orgulha em promover oportunidades que impulsionam não apenas o crescimento econômico local, mas também a qualidade de vida, fortalecendo laços de confiança e fomentando um ambiente de trabalho inclusivo e inspirador. Essa postura reforça nosso papel como agente transformador na comunidade, alinhando sucesso empresarial com impacto social positivo.
O setor de farmácias e drogarias ou nos últimos anos por uma grande revolução do ponto de vista comercial, com um incremento gigantesco de tecnologia e desenvolvimento de plataformas de e-commerce. Como esse processo se desenvolveu na Drogal e como ela hoje se posiciona no mercado do e-commerce? Quanto representa, em termos percentuais, o faturamento obtido no e-commerce versus a arrecadação em pontos físicos?
A inovação faz parte do nosso DNA. Temos o nosso e-commerce desde 2018, porém foi na pandemia da Covid-19 onde ele cresceu exponencialmente. Hoje somos 100% omnicanal, ou seja, o cliente pode comprar pelo site, app, telefone 0800, Whatsapp e em lojas físicas e receber ou retirar da forma que preferir. Atendemos todos os Estados do Brasil com nossa venda online e todas nossas lojas físicas são um hub de entrega ou retirada. E continuamos inovando. Inauguramos recentemente a nossa primeira farmácia com Drive-Thru em Piracicaba e temos agora Lockers de retiradas de pedidos em algumas filiais, agilizando ainda mais nosso sistema Clique e Retire. Atualmente as vendas online já representam 16% do nosso faturamento.
5. O setor de farmácias vive nos últimos anos um forte movimento de consolidação e pulverização das redes, especialmente no Centro-Sul do país. Como o Sr. analisa essa dinâmica? Ainda "há espaço" para mais ampliações ou os desafios de agora em diante estão relacionados ao estímulo ao "crescimento orgânico"?
A cada ano a expectativa de vida da população tem aumentado, e a preocupação com a prevenção, principalmente depois da pandemia, e pela longevidade com qualidade de vida, abriu muitas portas para o mercado de saúde. Em se tratando de Brasil, o varejo farmacêutico ainda é muito pulverizado, com uma grande quantidade de farmácias independentes coexistindo com grandes redes, o que cria um mercado altamente competitivo e regionalmente diverso. Ainda há muito espaço para crescimento das redes. Seguimos à risca nosso planejamento; nosso projeto para esse ano é o de abrir 60 novas filiais, sendo que 26 já foram abertas, além da construção de um novo centro de distribuição na cidade de São José do Rio Preto.
6. Em 2024 o Sr. foi eleito presidente do conselho da Abrafarma. Quase um ano após a sua eleição, quais os principais desafios e "gargalos" do setor já identificados pelo Sr.?
A Abrafarma é uma associação formada por 29 redes de farmácias, que se uniram para enfrentar os principais desafios do setor, sempre em busca da promoção e o o à saúde e ao bem estar da população brasileira. Há um ano assumi a presidência do conselho da Abrafarma com o compromisso de representar os interesses do segmento, junto às esferas governamentais e a sociedade. Hoje entre os maiores gargalos está, sem dúvida, a elevada e complexa carga tributária que incide sobre os medicamentos e sobre a atividade farmacêutica como um todo.
7. Quais outros entraves poderiam ser melhor trabalhados pelas esferas governamentais e como a Abrafarma pode colaborar nesse contexto?
A cumulatividade de impostos, as variações do ICMS entre os estados e a ausência de isonomia fiscal penalizam o todo setor. Outro ponto crítico é o excesso de burocracia regulatória, com normas sobrepostas e, muitas vezes, contraditórias entre os níveis federal, estadual e municipal. Isso impacta diretamente a operação das farmácias, gerando insegurança jurídica e muitas vezes inibindo investimentos. Também é importante destacar a necessidade de reconhecimento das farmácias como estabelecimentos de saúde e do farmacêutico como agente fundamental na atenção primária. A atuação do profissional farmacêutico pode contribuir significativamente para desafogar o sistema público de saúde, promovendo prevenção, adesão ao tratamento e cuidado contínuo. Em resumo, diria que a Associação tem atuado de forma propositiva, construindo pontes entre o setor privado, o poder público e a sociedade, com base em dados, evidências e diálogo qualificado.