
Criada em 2008, a Cedan (Companhia Estável de Dança de Piracicaba) se consolidou como um espaço de formação e produção artística na cidade. Vinculada à Secretaria Municipal de Cultura, a companhia tem como objetivo a formação de bailarinos e a difusão da dança por meio de espetáculos e parcerias. Em entrevista, a diretora artística Camila Puppa fala sobre a trajetória da Cedan, seus desafios, conquistas e planos para 2025.
A Cedan foi criada em 2008. Como surgiu a ideia de formar uma companhia estável de dança em Piracicaba?
A Cedan foi idealizada pela secretária de Cultura da época, Rosângela Camolese, e aprovada em redação final pela Câmara Municipal no dia 25 de outubro de 2007. A Cedan tem por finalidade incentivar e possibilitar a criação de um corpo de baile amador permanente, que apresente periodicamente espetáculos de dança em Piracicaba e em outras cidades, propiciando a formação teórica e prática de bailarinos.
Como a Cedan é mantida?
A Cedan é mantida pela Prefeitura e é uma entidade vinculada à Secretaria Municipal de Cultura de Piracicaba, para cumprimento das políticas culturais do Município e dar apoio ao seu funcionamento.
Quais foram os principais desafios enfrentados pela companhia desde a sua fundação?
Nosso maior desafio é sempre executar um bom trabalho e formar novos bailarinos, buscar coreógrafos e mestres renomados para uma boa formação profissional. Um grande desafio é a carência de recursos para manter os bailarinos nesse processo, sendo esse o maior motivo para evasão. A Cedan também se tornou um celeiro de bailarinos que querem permanecer dançando e participando das montagens, permanecendo na cidade de Piracicaba.
Qual avaliação você faz da evolução artística da Cedan ao longo desses anos?
A avaliação que eu faço que é um projeto público de muito sucesso, que apesar de muita controvérsia de início, alcançou os objetivos propostos dentro de uma boa política pública. A Cedan forma e informa, servindo como inspiração para a dança de Piracicaba. Temos bailarinos que aram pela Cedan dando aulas em praticamente todas as escolas, projetos, academias e clubes da cidade de Piracicaba, com uma metodologia de ensino e um olhar muito mais apurado. Temos bailarinos que estão atuando em diversas companhias e alcançaram patamares de 1º bailarinos Internacionais com reconhecimento mundial. Nossos bailarinos atualmente se apresentam junto à Orquestra Sinfônica de Piracicaba, tornando uma importante experiência em sua carreira profissional. O que ainda falta em nossa trajetória é mais investimento financeiro para que esses bailarinos permaneçam se especializando e alcancem patamares mais altos.
Quais são suas principais influências como diretora artística da companhia?
Minhas principais influências são as ciompanhias. Jovens brasileiras como também as internacionais, bem como, verifico e estudo a possibilidade dos bailarinos participarem de audições em companhias profissionais no Brasil e no exterior. Já tivemos bailarinos na São Paulo Cia. de Dança (SPCD), no Brasil, Ballet Nacional de Sodre, no Uruguai, Ballet Jovem da Ópera de Munich, na Alemanha, Ballet du Capitolle, na França, Sarasota Ballet e Miami Ballet, nos EUA., entre outros. Atualmente no Johanesburgo Ballet, na África do Sul, temos 2 primeiros bailarinos que foram formados pela Cedan.
A companhia trabalha com diversas técnicas de dança. Como você equilibra diferentes estilos nos espetáculos?
Nós trabalhamos com a técnica clássica, técnica de ponta, técnica masculina, pas-de-deux e técnica contemporânea. Desenvolvemos balés do repertório clássico e trazemos coreógrafos de neoclássico e contemporâneo convidados para oficinas e coreografias. Trabalhamos durante seis meses com as coreografias de neoclássico e contemporâneo e nos seis meses restantes, com o repertório clássico escolhido pela Orquestra Sinfônica de Piracicaba. Os bailarinos precisam de mais tempo para cuidar do corpo fisicamente, tecnicamente e compreender obra em sua totalidade. Portanto, o nosso foco é sempre em cima dessas três técnicas, que são as mais utilizadas pelas companhias no mundo. Tivemos grandes coreógrafos, tais como: Daniela Severian, Eduardo Bonnis, Edy Wilson, Fernando Silva, André Malosá, César Albuquerque, Juliana Tarumoto, Nielson Soares, entre outros.
Como é o processo seletivo para ingressar na Cedan?
O processo seletivo é uma audição pública para candidatos a partir de 13 anos, composta de uma banca julgadora com profissionais renomados, onde será realizada uma aula Clássica (com sapatilhas de pontas para as meninas), um solo de sua escolha e uma redação sobre um tema relacionado a dança.
Quantos pessoas fazem parte da Cedan, atualmente?
Atualmente é composta de 13 meninas e 4 rapazes. Este é número poderá ser ampliado para as montagens durante o ano.
Como é a rotina de ensaios e formação dentro da Cedan?
Nossa rotina é composta de três horas diárias de trabalho em quatro dias na semana. Diariamente fazemos uma tabela, que se inicia com uma aula de técnica clássica, sempre pensada na formação dos bailarinos e para o espetáculo a ser realizado. São previstos exercícios específicos para execução da obra. Logo depois se inicia o ensaio da obra. Em paralelo temos o estudo da música e do desenvolvimento do personagem e do tempo e espaço em que ele está inserido. Temos aulas de História da Dança, Nomenclatura e metodologia através de plataforma online. A cada início de obra são feitas redações a respeito e a cada fim de espetáculo, balanço do trabalho.
A Cedan já montou apresentações como “Quebra-Nozes – O Sonho de Clara” e “Sonhos de Don Quixote”. Como é a escolha do repertório?
As escolhas são feitas de acordo com o grau técnico e artístico dos elementos que compõem a Cedan no momento. Levando sempre em consideração o que está sendo dançado mundialmente e está em nosso alcance.
Há espaço para coreografias autorais dos bailarinos ou colaboração com novos coreógrafos?
Bailarinos da Cedan, como Fernanda Ferreira, Juliana Tarumoto, tiveram oportunidade de coreografar para a Cedan. Alan Marques, Ivan Domiciano, Monike Cristina, foram os bailarinos que já remontaram partes de ballets de repertório para a Cedan. Lançamos novos coreógrafos como Daniela Severian e César Albuquerque, que nos levaram ao Festival de Berlim.
Quais são os principais desafios que a Cedan encontra para adaptar clássicos do balé?
O nosso maior desafio em adaptar uma obra do repertório clássico é obedecer a fidelidade coreográfica ao original, mantendo o estilo, ao tempo do espetáculo proposto, sem retirar as pantomimas que são os gestuais que ajudam a contar o enredo e por último, não menos importante, ficar dentro do orçamento.
Qual a vocação da Cedan: a tradição ou a inovação?
A vocação da companhia não é nenhuma das duas. É a formação de bailarinos, professores, coreógrafos, seres humanos melhores em qualquer carreira que vierem a seguir.
Existe um espetáculo da Cedan que tenha um significado especial para você?
É sempre a próxima obra, com os desafios que ela traz para mim e para o desenvolvimento do elenco.
Qual é a importância da Cedan para a cena cultural de Piracicaba?
A Cedan elevou a cena da dança piracicabana a um outro patamar, principalmente pelos bailarinos que já formou. Devo dizer que preciso mencionar Monike Cristina, atual Primeira Bailarina do Joanesburgo Ballet, e Ivan Domiciano, recém-lançado como Primeiro Bailarino na mesma Cia. Recentemente no mês junho, Monike dançou com o 1º Bailarino da Ópera de Paris, Guillaume Diop, a convite dele, para junto dele se apresentar no Ballet a Bela Adormecida na África do Sul. Monike e Ivan, se apresentaram em O Quebra-Nozes do Cisne Negro Cia. de Danças, com estouro de bilheteria e com espetáculos extras lotados, ocasionando uma nova contratação do casal piracicabano a retornar neste ano de 2025, para novas apresentações. Monike e Ivan acabaram de receber um convite vindo do diretor do teatro do Rio de Janeiro, o piracicabano Hélio Bejani, para uma atuação no espaço.
De quantos festivais a Cedan já participou, tanto no Brasil quanto no Exterior, e qual a importância deles para a evolução da Companhia?
A companhia já participou de diversos Festivais, cito os mais marcantes: Seminário Internacional de Brasília, onde nossos bailarinos foram agraciados com bolsas de estudos em escolas internacionais. ENDA (Encontro Nacional de Danças em São Paulo) no teatro Alfa, que nos capacitou a premiação no palco do Teatro Municipal de São Paulo, onde ganhamos prêmio como melhor trabalho em Repertório Clássico. O Mapa Cultural de São Paulo com a Coreografia Forrozeando, um sucesso inovador do coreógrafo Fernando Silva. PRIDANSP, que nos levou ao Festival de Berlim, onde alcançamos a 4ª colocação com obras dos coreógrafos Cesar Albuquerque e Daniela Severian. Festival Dançar a Vida em Caraguatatuba onde abrimos uma noite memorável no teatro Municipal Mário Covas, com o Balé Carmen de Daniela Severian. Os Festivais, principalmente os Estaduais, nos dá oportunidade de conhecer novos palcos e assistir outros trabalhos e acima de tudo nos ensina muito e sempre é fonte de muita inspiração.
Quais são os projetos para 2025?
A Cedan sempre trabalha com uma agenda que é estabelecida em novembro/dezembro do ano anterior ao vigente, como na maioria da Cias. mas dependendo sempre da aprovação do executivo. Iniciaremos em abril com a abertura da Semana da Dança, com El Cid Suíte (Majissimo), de Jules Massenet, com minha remontagem. Em maio temos uma tarde coreográfica e audição para uma nova temporada de O Lago dos Cisnes. No mês de junho teremos a apresentação no Festival Piracicaba em Danças. Em julho nos apresentaremos no “Festival Dançar” a Vida em Caraguatatuba com El Cid Suíte (Majissimo). Em agosto, teremos espetáculo do ballet Carmen de Daniela Severian. Em outubro, Cedan para as Crianças com espetáculos com peças escolhidas especialmente para o público infantil. E seguimos até dezembro com a montagem e apresentações de O Lago dos Cisnes com a Orquestra Sinfônica de Piracicaba.
Para quem sonha em integrar a Cedan, qual o seu conselho?
Não tenha medo! Venha conhecer nosso trabalho de perto! Você pode!